sexta-feira, 7 de maio de 2010

A distância entre aquilo que se espera e aquilo que se vive

Quando vimos fazer Erasmus, vimos cheios de expectativas, há todo um mito sobre a "vida Erasmus". Toda a gente antes de vir ouviu as histórias, as aventuras de outras pessoas que já estiveram em Erasmus e cada um cria uma imagem do que vai ser o seu próprio Erasmus com base nos Erasmus dos outros.
Quando se chega cá a realidade é muito diferente. É muito mais difícil do que toda a gente conta. Porque ninguém conta esse lado. Ninguém conta as dificuldades que encontra (porque ninguém gosta de admitir que as têm), ninguém conta que há momentos em que só apetece voltar para Portugal onde tudo é certo e garantido. Ninguém conta as horas de solidão em que dava tudo para ter os amigos e a família aqui perto (e sabe tão bem a net nesses momentos). Ninguém conta os momentos em que questiona tudo isto.
Estes maus momentos não são iguais para todos. Tenho mantido contacto com várias pessoas que também estão a fazer Erasmus nas condições mais diferentes possíveis, e uns de uma forma, outros de outra tem tido momentos difíceis, ou porque estão a ser escravizados no laboratório, ou porque estão sozinhos ou porque tinham as expectativas muito elevadas antes de vir. Mas apesar disso continuamos todos a dizer quando nos perguntam, está a correr bem? Estás a gostar? Sim, espectacular, está a ser óptimo.
Porque mais uma vez é mais fácil fingir do que admitir que nem sempre estamos bem.
Não, o meu Erasmus não está a ser o Erasmus de sonho que eu queria, talvez porque pertencesse ao grupo das pessoas com demasiadas expectativas. As relações que se estabelecem com as pessoas que se conhecem são muito distantes, o trabalho na faculdade é bastante frustrante e a cidade não é um sonho. Mas, o que é importante perceber, é que embora as coisas às vezes não fossem como queríamos, existe sempre algo a que nos podemos agarrar para tornar as coisas mais positivas. Eu agarro-me às viagens que quero e vou fazer, aos momentos bons que também há e tento encarar todos os momentos em que estou sozinha como algo que também me ajuda a crescer. E tentar aprender que embora as coisas não sejam sempre como queríamos, não são por isso necessariamente más.
Este não é um relato de viagens, nem de bons momentos passados aqui. É um texto que estive para não publicar, mas achei que devia, porque há muita gente que passa por estes momentos difíceis e sabe bem ouvir que não estamos sós.
Mas acabo a dizer, se me perguntassem, voltavas a fazer erasmus? Não hesitava, voltava sem dúvida! Porque os maus momentos aqui são para ser ultrapassados e os bons para ser aproveitados e recordados. E no fim na nossa memória devemos fazer sempre por preservar os bons, porque são esses que nos acompanham para a vida.
Amanhã vou para Amesterdão, e isso deixa-me extremamente feliz. :)

3 comentários:

  1. Um escrita de coragem. Um escrita também saudável:"maus momentos aqui são para ser ultrapassados e os bons para ser aproveitados e recordados". É isso mesmo.
    Um inesquecível professor meu na Faculdade dizia, perante jovens expectantes diante tudo que estava prestes a acontecer: Só uma coisa é necessária na vida - ter coragem. E perguntava. E vocês, tem?
    Talvez por aqui se encontre algum sentido que a vida possa ter, a autêntica...
    A.J.

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  2. Obrigada Alice por este post...
    Acho que so agora compreendes tudo o que te dizia quando falavamos antes de tu embarcares na tua viagem Erasmus...
    Eramus é mesmo assim!!so mesmo quem passa percebe do que falas...
    Distantes ou não as relações que se fazem, pelo menos aqui eu e a rita fizemos alguns amigos, conhecemos gds pessoas tb :)
    Sim, eu sou uma das escravizadas do laboratório (adoro essa referência nos teus posts), mas felizmente o meu laboratório é bom, trabalha.se, mas tb se tem toda uma equipa sempre disposta a dar.t uma ajuda, e aquele smile quando é preciso...
    E tal como tu dizes, eu não podia viver sem ter vivido esta experiência erasmus...
    Depois quero saber promenores de amesterdão...
    Proximo encontro: Portugal...
    E espero por ti em Paris tb :)

    bjos*
    Catarina Toscano

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  3. Belo Post Alice,

    Estou a chegar a conclusão que o Erasmus serve para nos testarmos a nós próprios.
    Esta aventura acaba por nos mudar, e se pensarmos bem...imaginem na quantidade de obstáculos que tivemos de passar, na solidão, na fase de habituação, na dúvida, na criação obcessiva de laços de amizade, na percepção de que a cidade onde estamos não é para passar férias, é para se viver... tanta coisa, nas saudades...podia ficar aqui o dia todo:p

    Però, com o passar do tempo, tudo isto é ultrapassado, e ficamos mais fortes, mais seguros de nós próprios, conhecemo-nos melhor, e se calhar até perdemos alguns defeitos. Iremos ver o mundo com certeza com outros olhos, e estaremos muito melhor preparados. Isto é tão único, tão especial, exactamente pelas adversidades, e claro, por todas as experiências vividas que boas ou más constroiem toda a esta aventura.

    Acho que arranjei um lado positivo de ver as coisas:) resulta:p

    beijinho enorme para ti*

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